Epistemologia: O conhecimento do que mesmo?


Começo por uma metáfora própria.
Um homem entrando numa floresta desconhecida observava tudo ao redor quando, de repente, percebeu um pântano a sua frente. Precavido, lançou mão de uma varinha com a qual tateava o pântano antes de dar o próximo passo em direção ao seu centro. A certa altura descobriu que dali em diante o pântano era muito fundo. Decidiu fincar a varinha naquele local para que outros soubessem do limite e do perigo. Satisfeito com suas descobertas, foi embora. Veio um segundo homem a explorar a mesma floresta deparando-se com a varinha demarcando o meio do pântano. Então, amarrou outras varinhas na primeira fazendo uma frágil e pequena cerca. Vindo um terceiro homem e, encontrando a cerca, resolveu cobri-la com folhas como se fosse uma cabana. Tudo um único ponto de apoio, a primeira varinha. Vindo um quarto homem que, como os outros, não sabia o que encontraria na floresta, achou a “cabana” e pôs-lhe portas, janelas e muros de alvenaria. Finalmente, vindo um último homem e vendo casa de alvenaria, decidiu construir um enorme edifício, um verdadeiro arranha-céus. Uma construção admirável admirada e visível até bem loge da floresta. Toda esta construção tinha um único ponto de apoio: a simples vara fincada num terreno pantanoso.

Talvez, você pense: que loucura é essa? De fato, qualquer pessoa com um pouco de maturidade ou sanidade diria que essa é uma história absurda mesmo para uma parábola. Por outro lado, não é preciso ser um engenheiro para saber que tal proposição nunca seria viável. Mas é disso mesmo que estamos falando.

No mundo da ciência cujo pressuposto é a retórica, essa proposição nunca  é/foi/será será absurda. Se não, por que cada filósofo contesta (de certo modo) o outro que o precedeu? Se não, por que somente no mestrado, quiçá no doutorado, pode-se propor novos questionamentos? Por que grandes discursos do passado, tidos como o suprassumo do saber na época, hoje, cheiram a naftalina? O que dirão as próximas gerações das nossas certezas incontestes de hoje?

Neste fundamente, Schleiermacher tinha razão. É preciso saber ouvir. Ouvir o que é dito e, principalmente, o que não é dito. É preciso perceber nas entrelinhas ainda que não seja alguém erudito e eloquente. Mas, para isso, é preciso um pouco de humildade socrática “de nada saber”, é preciso ser epistemologicamente pedagógico como Paulo Freire, é preciso perguntar com toda honestidade: o que você está querendo dizer?

Se não, tudo não passa de retórica, com ou sem fundamento; de titulação, com ou sem conhecimento; de construção de discurso, com ou sem sentido, motivo ou razão. É assim que se constroem os arranha-céus do conhecimento, com discursos. Talvez a pergunta não seja o que é o conhecimento? Quem sabe seja: conhecimento de que, para quê e por quê?

"O que quer dizer o autor através do texto?" (Schleiermacher)

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