Socorro! Então estuprando o meu cérebro

Essa foi demais. Não deu nem para fazer uma introdução do assunto. Estou sendo violentado por algo que deveria seu prazer para mim.

Particularmente tenho uma grande alegria em colaborar com missões, conhecer e ouvir histórias de missionários. Mesmo antes do meu chamado para o seminário lembro-me que as únicas datas que sabia de cabeça eram aquelas dedicadas aos congressos missionário da minha igreja.Infelizmente, todo esse afã pelo tema tem-se tornado um verdadeiro “estupro” intelectual diante do que tenho aprendido na academia. O que deveria ser um prazer está se tornando uma tortura e uma violência ao meu raciocínio. Estão tentando engessar o meu cérebro!

O filme A Missão (The Mission, ING 1986) é um excelente filme premiado com a Palma de Ouro em Cannes e Oscar de fotografia. Tem como atores Robert de Niro, Jeremy Irons, Lian Neeson entre outros.

Talvez você esteja se perguntando o que isso tem a ver com o título. É simples. Após assistir o filme, que sinceramente eu não conhecia e o qual recomendo, houve um debate cuja pergunta foi: Então, qual tem sido o nosso modo de fazer missão?

É evidente que o “nosso” não está se referindo aos católicos (os jesuítas), mas aos “homens brancos” e por tabela a nós “homens civilizados”, se considerarmos que é deste modo que olhamos os povos de outras terras como a África, por exemplo.

O que foi grave na pergunta foi à indução do pensamento que tentou manipular os fatos, responsabilizando “Rodrigo Mendoza” (personagem de Robert de Niro), como sendo o vilão responsável pelo massacre dos índios Guaranis. Esta história está relatada nos livros de história é conhecida como "Guerras Guaraníticas” que ocorreram em vários lugares da America Latina. No caso do filme, a cidade em questão, é conhecida, hoje, como São Gabriel (em homenagem ao padre jesuíta morto no confronto) no RS. Confira.

De fato, o ex-mercador pegou em armas para defender àqueles que antes escravizava; de fato, se a missão tem como objetivo levar o amor de Deus, NADA JUSTIFICA pegar em armas; mas daí dizer que “Mendoza” foi o responsável não deu “pra engolir”. Foram os soldados da coroa espanhola que massacraram cruelmente os índios! Existe uma expressão que me parece apropriada nestes casos: “Salto o ELEFANTE e me atraco com a formiga”. Sugiro que você veja o filme e chega as SUAS próprias conclusões. Mas o que vi foi totalmente diferente.

Vi a ganância de homens, que não tinham nada a ver com missões, massacrarem os índios. Vi os poderes políticos controlarem as mentes e as ações de homens gananciosos. Vi um representante do clero (do Papa) invejoso do padre Jesuíta “Gabriel” (Jeremy Irons) ceder aos interesses mesquinhos do poder. Como seria possível que um representante do clero consentisse numa coisas dessas? Só a inveja poderia fazê-lo.

Apesar de todos estes fatos a discussão girou noutra esfera: Qual tem sisdo o nosso modo de fazer missões? A reflexão é válida e MUITO pertinente. Uma pergunta sem a qual não vale a pena sair para fazer missões nem do outro lado da rua (na casa do vizinho), mas auto lá! O filme não trata disso. No máximo deixa uma pergunta quanto à visão do índio. Para ele, sim, no fundo no fundo, não importa se foram os reis de Portugal e Espanha ou se foram os Jesuítas que os atiraram. Eles foram traídos pelos brancos e ponto. E isso é o máximo que se poder dizer quanto ao filme. Que os índios não confiam mais em nós, isso é fato, mas NÃO PORQUE os jesuítas não souberam fazer missões (ou mesmo nós numa projeção deles).  Os jesuítas (no filme) não tem responsabilidade nenhuma no massacre, até porque uma outra missão próxima também foi atacada sem aviso prévio. Todos foram expulsos e as crianças assinadas sem que os índios oferecerem a menor resistência.

Como assim Mendoza foi responsável? Ele nem estava lá. Por acaso o ex-mercenário atirou no padre Gabriel enquanto este celebrava a missa? Foi ele que comandou as tropas do rei de Espanha? Por acaso foi o padre quem determinou que os índios ficassem e lutassem? Ou foi Mendoza? Isso é o que incomoda: “saltar o elefante e se atracar com a formiga”.

É lamentável perceber que aquilo que poderia se tornar um belo debate tenha se tornado algo enfadonho, sem sentido e mais, uma agressão ao pensamento questionador de qualquer estudante de faculdade (facultare=escolher). Entretanto, o pior de tudo é ser uma voz isolada uma vez que a maioria se deixou levar pela “condução” proposta. Por isso, me pergunto: o que nós estamos vendo? o que nós estamos pensamos? como nós estamos pensando? Será que somos realmente autônomos no nosso pensar, justamente nós que nos arvoramos na posse da “verdade”?

O mais curioso é perceber que nós, os cristão, condenemos os missionários jesuítas (do filme), enquanto os não crentes, aqueles que não têm a menor ideia do que seja missão, façam exatamente o contrário criticando os valores espúrios da ganância da inveja e do poder como podemos perceber na sinopse da capa do próprio filme.

Rodrigo Mendoza é um mercador de escravos que faz da violência seu modo de vida. Na disputa pela mulher que amava mata o próprio irmão, seu rival. O remorso pela selvageria leva Mendoza à penitência, com os antes desprezados jesuítas. A paz, no entanto, lhe é negada. Envolvido no jogo político dos colonizadores ele se tornará um mártir na defesa dos Índios que viera para escravizar.
Mas tudo, sempre, tem o seu lado bom. Este “debate” de “ideias” teve sua utilidade. Primeiro, tornouse fonte de inspiração deste este post e você, leitor, tomasse conhecimento de um bom filme e bastante atual para quem gosta do tema: missões. Segundo, para que eu não “surtasse” diante do absurdo de uma “lógica” ilógica que contraria TODAS as sinopses e comentários a respeito do filme, mesmo entre os mais céticos. E finalmente, serviu como inspiração para próximo post onde abordaremos o tema, missões, este sim, do ponto de vista da crueldade dos dominadores que manipulam as missões e os missionários. Pessoas de coração puro dispostas a morrer pela causa. Ou seja, um post em total acordo com a ideia do filme.

Tenho, entretanto, uma última sugestão. Assita o filme (veja o trailer) e esteja à vontade para desconsiderar, descordar e criticar TUDO, absolutamente todo do que leu aqui. Não é meu desejo violentar a sua mente de modo algum. Aqui, você sempre poderá fazer as SUAS escolhas.

Comentários

  1. Que texto, que crítica. Desde que entrei na escola primária e a professora de história contou a "história do macaco" estou vacinado quanto a isso, decidi que deveria escolher e escolhi acredito na Criação.

    Agora o que me assusta é estarmos na graduação e parece-me rever o história se repetindo.
    Mas estuprar não, porque uso cueca de ferro.
    Com relação à atitude dos jesuítas comparada aos missionários e seminaristas, que são forçados a deixar suas "missões" por ordem suprema concordei, melhor, vi.

    Agora se Mendonza é culpado, vamos culpar os mendigos por pedirem esmolas e não o governo.

    Não preciso ir muito longe: mandem fechar a missão STBSB e esperem que os "mendonzas" fiquem esperando serem consumidos. E no final ainda culparemos os mendozas??? Se bem que no país que estamos é bem provável que sim.

    Agora repito, eu tenho cueca de ferro.

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  2. Bom texto, boa crítica.

    Mas não entendo por que removeu o comentário da Professora Lilia Marianno.

    Alguma crítica contra a sua crítica que você não aceitou?

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    Respostas
    1. Olá Gustavo,

      Obrigado por seu comentário.
      Nunca vou tolhir um comentário exceto se houver ofensa (grave) ou sem identificação. Eu escrevo e assino em baixo. Quem quiser comentar que faça o mesmo.
      Quanto ao texto: Este comentário foi removido pelo autor, trata-se do autor (autora). Ou seja, foi a própria professora quem quis fazê-lo.
      Tenho grande respeito por ela concordando ou não com a sua opinião. De fato ela fez uma crítica dura, mesmo assim publiquei. Acontece que depois (por e-mail) a fi-la ver que se tratava de outro assunto e ela, por vontade própria, retirou o comentário. Foi um mal entendido. Eu pedi-lhe que deixasse assim, mas ela decidiu retirá-lo talvez pelo contexto ser outro (comentário versus artigo).
      Como disse quem quiser pode comentar o que quiser. Este é país livre. Este é um blog livre. Aqui cada um faz suas escolhas (facultare est).

      Leo.

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