Guarda o teu coração ou Do Inferno

Talvez você tenha estranhado a parte final do título o que já explico.


Existe um filme, o qual eu gosto muito, que conta a história de Jack, o estripador, morador da Londres do século XIX. Há certa altura do filme um amigo do personagem (Jack) pergunta-lhe: - De onde veio esta ideia de matar estas mulheres desta maneira? E ele responde: - Do inferno (From Hell). Vem daí o título do filme.

Mas, qual relação com o texto de provérbios 4.23?
“Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida”.
Porque este nos ensina alguns valores que devemos guardar sendo um deles fonte da própria vida, o coração.

Quando percebemos a injustiças e a opressão é comum que lutemos contra elas. Lutar contra a opressão e a injustiça é um sentimento legítimo e até nobre. Sentimento que por vezes pode levar ao outro extremo, a violência. Entretanto, existe um viés ainda mais perigoso que nos abarca o coração manifesto quando dizemos: Quando eu estiver no lugar deles (no poder) vou fazer tudo diferente.

Chamo este sentimento de “a síndrome de Darth Vader”. Anakin Skywalker, o menino pobre, vai se tornando aos poucos um Jedi. Diante o poder que lhe foi dado e tomado pelo intenso desejo de fazer justiça o jovem Jedi é literalmente levado para o lado negro da força.

Do mesmo modo, quando ouço alguém a nos falar “eu acredito que vocês farão muito melhor [que eles]”, meu coração se aquece com este mesmo sentimento e, sem perceber, lá estou eu indo para o lado errado pelo motivo correto. Este é um sentimento legítimo (fazer justiça), mas é preciso ter o cuidado de saber quem a faz. É preciso prudência e muito discernimento espiritual para entender como se faz essa justiça.


Está muito claro que a atitude de quem detém, hoje, o poder, de modo às vezes tirânico, está motivado pelo mesmo desejo de “fazer justiça”.

Ao observarmos que as mesmas críticas do passado se repetem é preciso pergunta-se o por quê. Por que geração após geração as críticas são as mesmas? Por que os mesmos sentimentos que tomaram nossos líderes no passado não são capazes de modificar suas atitudes no presente? Será que nós faremos realmente diferente deles ou seremos também criticados pela próxima geração?

Os fatos são os fatos e uma geração após outra, observamos as mesmas práticas que, hoje, abominamos e nada muda. Mas por quê? Para mim existe um plano muito bem engendrado manter a continuidade deste sistema nocivo.

Primeiro despertam-nos o sentimento mais autêntico no ser humano: o desejo da liberdade e justiça. Depois nos ensinam, os futuros líderes, que seremos os verdadeiros “salvadores da pátria”. E, finalmente, quando estivermos convencidos disso, entregam-nos o poder. E é assim que se perpetuam os erros e os desejos de “fazer justiça”. Este é um plano, literalmente, do inferno.

Por isso o texto de provérbios 4 me parece muito apropriado. Ele ensina a ouvir as palavras do Senhor (v. 10) porque são o caminho da sabedoria (v. 11). “Apega-te à instrução e não a largues; guarda-a, porque ela é a tua vida” (v. 13).

Também aprendemos a evitar o caminho dos ímpios (v. 15) porque comem do pão da impiedade e produzem violência (v. 17). “O caminho dos ímpios é como a escuridão; nem sabem em que tropeçam.” (v. 19).

Porém, de todos estes ensinos um tem prioridade: “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração” (v. 23).

Se assim fizermos desviaremos da falsidade e perversidade da nossa boca (v. 24), olharemos sempre para frente (v. 24), ponderaremos nos nossos caminhos de forma ordenada (v. 26) e não nos inclinaremos nem para esquerda nem para direita (v 27).

Disse Jesus: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos” (Mateus 5.6) e disse também: “Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus.” (Mateus 5.8).

Tudo na vida é consequente e, por mais difíceis que sejam sempre há escolhas. Algumas destas dependem a nossa vida. Se você, assim como eu, deseja fazer tudo diferente então comece agora. De tudo que tem visto e aprendido, sobretudo guarda o teu coração.



Dedicado a um grande amigo que, como eu, não se conforma com a injustiça.

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