Josué, Calebe, Batistas


Émile Durkheim, um dos maiores sociólogos do século XIX, foi também responsável por um dos mais belos modelos de educação da história. Escolas gratuitas para todos e ensino obrigatório dos 6 aos 13 anos são duas propostas suas aprovadas em 1882 na França. Também foi a provada uma outra proposta sua: a partir daquele ano ficou proibido formalmente o ensino da religião nas escolas francesas.

O que o Brasil está fazendo?
O Brasil está cumprindo, tardiamente, a lei 9.394/96 da LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação), no que diz respeito ao ensino religioso em todas as escolas do país. Na prática, o Brasil está voltando onde Durkheim parou ainda que os contextos sejam bem diferentes. Tratando-se de uma Lei Constitucional e levando-se em conta que o Estado é laico (o Estado não interfere na religião) o órgão responsável por regulamentar o que seja ensino religioso é o MEC e não as instituições religiosas, bem diferente da época de Durkheim.

Todas as instituições do chamado ensino fundamental terão que cumprir a lei. E, no caso das escolas públicas, o professor de ensino religioso será admitido como qualquer outro professor da rede, por meio de concurso público. No Rio de Janeiro, já para 2012, as opções são das doutrinas católica, evangélica/protestante, afro-brasileiras, espírita, religiões orientais, judaica e islâmica. (fonte: http://oglobo.globo.com/educacao/escolas-municipais-do-rio-de-janeiro-terao-ensino-religioso-2898624)

O que nós, batistas brasileiros, estamos fazendo?
Há que se ter critérios para definir quem pode ou não pleitear uma vaga de educador religioso na rede pública. Será preciso ter habilitação na doutrina que se pretende ensinar. Os alunos da Faculdade Teológica Umbandista (FTU http://www.ftu.edu.br) ao terminarem o seu curso receberão seus diplomas com a seguinte inscrição: “Bacharel em Teologia” tendo ainda a chancela do MEC. Além disso, a FTU já disponibilizou o curso e pós-graduação em ensino religioso segundo as doutrinas da Umbanda. O mesmo se dá com a graduação em pedagogia e pós-graduação da Faculdade Espírita (UNIBEM http://www.unibem.br), também com a chancela do MEC. Ter a chancela do MEC, pós-graduação, Mestrado e etc., soma mais pontos em termos de concurso público.

Segundo o IBGE o número de matriculados na rede pública é da ordem de 35.000.000 de alunos (http://www.brasil.gov.br/sobre/o-brasil/o-brasil-em-numeros-1/educacao/print).
A grande maioria tem entre 7 e 13 anos. Para os batistas este poderia ser um enorme campo missionário e uma oportunidade de levar o ensino cristão (uma das faces do ensino religioso) a meninos e meninas do nosso Brasil. Ensino cristão dentro da lei e estabilidade de trabalho para o professor.

O que nós, batistas brasileiros, estamos fazendo com as nossas instituições de ensino?
O “poderia” não foi acidental. Temos discutido nos últimos anos se a Teologia deve ou não entrar para a academia (MEC). Outras confissões religiosas não têm a menor dúvida quanto a isso. Aprovamos em 2010 o fim do curso de Pedagogia do Seminário do Sul. O único desta instituição realmente reconhecido pelo MEC até a presente data. Sem sofismas quanto ao verbo fechar porque o texto é muito claro: “Atendimento: Como o referido curso não apresenta sustentabilidade econômico-financeira, foi determinada a não realização de vestibular para o ingresso de novos alunos. A instituição deverá levar até o final do curso os alunos ora matriculados”. (pag. 221 do Livro do Mensageiro da CBB de jan-2011).

O que nós, batistas brasileiros, estamos fazendo com a antiga visão missionária?
Quando os americanos do Sul dos Estados Unidos vieram para o Brasil tinham uma visão missionária muito clara. Mais que plantar igrejas desejavam formar líderes para que o trabalho continuasse. Os professores eram vistos como missionários pela Junta de Richmond. Por isso, sempre que faltava dinheiro nossos irmãos americanos nos socorriam. Eles avisaram com antecedência que chegaria a hora de voltar, afinal, já haviam igrejas suficientes para sustentar o trabalho e professores preparados para continuar o que começaram. Capítulo triste e complexo foi o que aconteceu depois. Contudo, a estratégia que já foi nossa tem sido muito bem usada pelos muçulmanos: a cada mesquita, uma escola. Não é a toa que ela é a religião que mais cresce no mundo.  (http://www.usp.br/revistausp/67/17-pinto.pdf)

O que os outros estão fazendo?
Felizmente outras confissões cristãs estão prontas a aproveitar esta oportunidade única e peculiar brasileira. Os assembleanos, católicos, presbiterianos, entre outros, já têm ou estão por conseguir seus certificados no Ministério da Educação. Algumas destas instituições têm, inclusive, Mestrado e Doutorado o que aumenta a vantagem (mais pontos) na hora do concurso: a chamada titulação.

É! Parece que nós, os batistas brasileiros, estamos indo no revés da história ou na contramão, como se diz. Mas quem sabe não sejamos nós como Josué e Cabele no deserto de Parã, em Cades (Nm 13-14). Talvez o tempo mostre que somos os únicos certos e todos estejam errados. Mas neste caso precisamos rever alguns do nosso arraial que insistem em montar Seminários Teológicos em suas igrejas, inclusive, com certificação do MEC. Mas isso já outra história.

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