No limiar do conhecimento

Quando tiveres desvendado todos os mistérios da vida ansiarás pela morte, pois ela não é senão outro mistério da vida.” Esta conhecida frase Gibran Khalil Gibran presente em seu livro Areia e Espuma nos trás algumas reflexões.

Começo, propositalmente, este texto pela conclusão para que você possa desistir de lê-lo logo no seu início. Se, contudo, desejar continuar já sabe como irá terminar.

Com afinco tenho me dedicado às aulas das quais fazem parte as de cunho filosófico. O interesse é grande visto que tais matérias auxiliam no entendimento de como o mundo pensa.

Não poucas vezes me deparo com o um filósofo ou pensador importante e influente em seu tempo que, não por acaso, ainda influencia os pensamentos do nosso tempo.

O problema reside justamente neste afinco em compreender alguns destes pensadores. O que tenho percebido é que dificilmente algum deles consegue levar às últimas consequências seus ideais filosóficos.

Digo mais claramente: Se nos aproximarmos destes homens totalmente libertos de quaisquer preconceitos e dispostos a levarmos a cabo seus planos para a humanidade, certamente estaremos em rota de colisão com a tragédia da vida humana.

A esta altura muitos estão a escarnecer deste texto, mas que tal poderá-lo sob duas perspectivas muito simples e diretas, bem ao estilo filosófico?

A primeira diz respeito as sucessões de filosofias. Ora, fica claro que um filósofo após o outro modifica, aperfeiçoa ou nega seu antecessor. Isso evidencia que, apesar de todo conhecimento de um, outro virá para modificá-lo. Logo, este conhecimento ainda não está “perfeito”. – Não tratamos com ingenuidades históricas e contextuais que se aplicam a estes casos numa análise hermenêutica séria. – O que se evidencia á a dinâmica própria de cada sociedade, de cada civilização. Portanto, é precipitado pensar que temos, hoje, o conhecimento mais acurado, mais completo ou mais “atual”.

A segunda proposta é metafórica. Imagine que você e sua família sejam os últimos remanescentes da espécie humana e têm, agora, a oportunidade de começar tudo absolutamente do zero. É quem você vai estabelecer a linguagem, as leis, o saber, as crenças etc. Tudo dependerá somente de você. Só você detém todo o conhecimento acumulado da história como a temos hoje. Pergunto: Como você faria para construir um “mundo perfeito”? Ou seja, qual seria a filosofia eficiente e eficaz capaz de construir uma sociedade perfeita e harmônica. Lembre-se que ninguém mais tem memória passada. Então, já pensou em um ou mais nomes de pensadores capazes de reconstruir tal sociedade? Pergunto novamente: Qual filosofia levada as suas últimas consequências daria cabo desta façanha?

Bem, a esta altura sugiro que você escreva os nomes e os pensamentos destes tais e faça um teste para verificar se realmente daria certo. Sugiro um título para essa gênesis hipotética. Que tal chamar de; o mundo perfeito segundo ... e complete com o nome que quiser.

Admito, tenho feito esse exercício durante as aulas. A cada contato com um novo pensador sua "nova" filosofia, eu descubro que também esta não dá conta de construir um “mundo perfeito”. Ela logo passa ser somente mais uma filosofia que levaria o mundo a sua autodestruição (neste nosso exercício).

Ao que parece, o conhecimento é um processo acumulativo do saber do ontem, no hoje para o amanhã. E o mais importante deste conhecimento não está na sua teoria de “ideal”, mas na aplicação para a vida. Na vida das pessoas, no equilíbrio que todo ser humano deve ter. Equilíbrio até mesmo do "o que" e "o quanto" conhecer. Parece-me que o conhecimento pelo conhecimento desconectado da vida, é algo vão e sem sentido e está fadado a levar o homem a loucura da “não-vida”.

Por isso comecei pela frase do Gibran. A meu ver ela faz todo sentido.

No limiar do conhecimento está a vida. Mas tudo é uma questão de escolha.

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